sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

HERPES


Uma coceirinha discreta acompanhada de um leve ardor no canto dos lábios anuncia a saga que está por vir. A vermelhidão, as bolhas e a dor desconcertante e, às vezes, até mesmo febre não tardam a arrebatar a vítima. Sem falar no constrangimento de exibir uma ferida proeminente no rosto. Inicia-se, então, uma via-crucis que irá perdurar por cerca de sete longos dias, dificultando tarefas simples como comer e conversar. Quem já teve uma crise de herpes conhece bem esse martírio. E quem nunca enfrentou o problema não está totalmente livre dele. “Cerca de 90% da população já teve contato com o vírus da doença, mas apenas de 10 a 15% manifestam os sintomas”, estima o dermatologista Reinaldo Tovo Filho, da Sociedade Brasileira de Dermatologia — Regional de São Paulo.

Grande parte das pessoas contrai o micróbio na infância, por meio do contato com gotículas de saliva — haja beijocas de tios, tias... — ou brinquedos contaminados. Já na idade adulta, a transmissão costuma se dar, por assim dizer, boca a boca. A moçada que se orgulha de contabilizar o número de beijos ao final da balada tem aí um motivo para moderar na empolgação. Uma vez infectado, cada um depende da capacidade de seu organismo de reagir ao vírus. “Algumas pessoas nunca apresentam crises. Outras passam por apenas uma ocorrência. Na pior das hipóteses, o indivíduo infectado começa a sofrer de manifestações recorrentes”, explica o infectologista Gilberto Turcato, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Esse último caso requer cuidados especiais.

A má notícia é que, em quaisquer dessas condições, não dá para se livrar do vírus: o hospedeiro terá que conviver com ele para o resto da vida. O pior de tudo é que, além do desconforto que o enxerido provoca, ele não é tão inofensivo quanto parece. “Em situações mais raras, o herpes ataca o cérebro, provocando meningite, ou os olhos, levando à cegueira”, alerta o infectologista Davi Uip, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Sem contar que um estudo novíssimo acaba de associar a presença do vírus no corpo à ocorrência do mal de Alzheimer.

A primeira crise de herpes é sempre a mais bombástica. “Ela costuma ser bastante agressiva e chega a durar três semanas”, confirma o clínico-geral Paulo Olzon, da Universidade Federal de São Paulo. O episódio de estreia, no entanto, é a melhor oportunidade de preparar o corpo contra as futuras investidas do hóspede indesejado. “A doença deve ser tratada precocemente, quando surgem os primeiros sinais”, avisa Gilberto Turcato. O objetivo não é apenas encurtar o período de desconforto, mas diminuir a concentração de micro-organismos no corpo. “Isso é decisivo para reduzir o risco de recidivas e a intensidade das manifestações futuras”, justifica Turcato. Dessa forma, diante da suspeita desse estorvo, é melhor não vacilar e procurar a orientação de um profissional.

Na tentativa de controlar as aparições do penetra, os médicos lançam mão de antivirais, drogas que barram sua multiplicação. Uma boa alimentação também dá uma força extra para que as defesas do organismo possam dizimá-lo. Aplicar gelo sobre as lesões é uma das dicas dos especialistas. “A temperatura fria alivia a dor e auxilia na recuperação”, aconselha Reinaldo Tovo. Fora isso, não há muito o que fazer. O jeito é ter paciência e esperar a ferida regredir, o que leva cerca de sete dias. Embora algumas pessoas sejam mais suscetíveis ao vai-e-vem das bolotas, há fatores que ajudam a despertar o intruso. “O estresse e a tensão prémenstrual comprometem o sistema imunológico, deixando o organismo vulnerável”, exemplifica Paulo Olzon.

E, no verão, o germe faz a festa — daí a necessidade de atenção redobrada na estação do calor. “Os raios solares ultravioleta fragilizam as nossas defesas, além de ressecar os lábios, que ficam mais vulneráveis”, diz o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo. Assim, evite a exposição excessiva ao sol, beba bastante líquido e utilize protetor labial ou batom com filtro solar sempre. O médico Davi Uip lembra que os casos de infecções repetitivas requerem um tratamento mais duradouro com antivirais. Ou seja, se o vírus ganha pontos, tudo se complica. A melhor estratégia de defesa contra o ataque desse invasor é, portanto, fechar a guarda e garantir que ele permaneça fraco e adormecido, sem causar nenhum estrago.

Fonte: Saúde é Vital

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