CIÊNCIA DA ATRAÇÃO
Sabe quando você conhece a pessoa perfeita: bonita e gostosa (e ainda por cima completamente na sua), mas, mesmo que você queira, simplesmente não rola aquela química necessária para seguir adiante? Como se não bastasse você se sentir um completo fracasso por dispensá-la e continuar sozinho — ou, o que é ainda pior, insistindo naquela pessoa bem menos interessante e que nem lhe dá tanta bola assim —, ainda tem de ouvir os amigos falando o que fariam no seu lugar. Se isso serve de consolo, saiba que pelo menos a ciência está do seu lado.
Isso sem contar, claro, os aspectos culturais, que nos diferenciam dos outros animais (os cachorros parecem não se importar muito com os modos à mesa de sua parceira sexual, tampouco as leoas no cio conferem a classe social e o nível de instrução dos leões).
“Vários estudos mostram que nossa preferência sexual tem um caráter genético, tanto que você prefere o gênero masculino ou feminino por uma determinação que cada vez mais os estudiosos vão localizando dentro do DNA. Mas é lógico que nada como a cultura e o ambiente para modifi car a genética”, diz a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora geral do ProSex, Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. “O desenvolvimento de mecanismos psicológicos como atração sexual ou ciúme tem uma base genética, mas eles também necessitam de um impulso social para serem ativados”, afi rma o psicólogo evolutivo David Buss, da Universidade do Texas.
Dito isso, voltemos aos nossos sentidos mais primitivos. Dentre eles, o olfato é o que mais nos aproxima dos cachorros, leões e outros parentes menos civilizados no quesito luxúria, segundo as recentes descobertas da ciência. O bom parceiro é aquele que cheira bem. E não estamos falando (só) de banho e desodorante, mas da infl uência inconsciente que o olfato desempenha na escolha do melhor companheiro para a procriação — lembrando que esse critério também é inconsciente, afi nal, há alguns milhares de anos, quando nosso cérebro foi programado para selecionar pretendentes de acordo com sua capacidade reprodutiva, ninguém se preocupava muito com planejamento familiar. E ainda não deu tempo de nosso principal órgão se atualizar, já que a velocidade das nossas alterações biológicas não acompanha a das culturais.
Apesar de não nos darmos conta, temos um olfato apuradíssimo para detectar um conjunto de genes conhecido como MHC (complexo de histocompatibilidade principal, na sigla em inglês), que controla o sistema imunológico e influencia a rejeição de tecidos. Quanto mais parecido o MHC do casal, maiores as chances de o útero rejeitar o feto. Portanto, nesse caso (e só nesse), a máxima de que os opostos se atraem está corretíssima.
Fernanda Colavitti
Fotos: Alessandra Levtchenko
Fonte: Revista Galileu - Trecho da reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista de junho/2008.
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG83912-7855-203,00-A+CIENCIA+DA+ATRACAO.html
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